Conheça Luedji Luna - Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água

Foto: Helen Salomão

Dando início a nossa coluna “CONHEÇA”, trouxemos a incrível, encantadora e necessária Luedji Luna, cantora, compositora, mulher, preta e baiana, dona de “Acalanto”, “Banho de Folhas” e de um álbum visual exuberante, lançado no ano de 2020, chamado “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”.    

Luedji Luna começou a escrever muito nova, tendo feito a sua primeira composição musical, “Pele”, aos dezessete anos de idade. Sobre a sua escrita, ela diz: “me deu esse lugar de expressão no mundo”.  

Em entrevista com Lázaro Ramos, no Canal Brasil, ao ser questionada com quem/com o quê ela quer se conectar através da sua música, Luedji Luna disse que a música dela nasce com o sentido e, primeiramente, para ela. Um sentido do “eu” para o “nós”. 

As músicas da cantora passam por diversos estilos, como MPB, R&B, jazz, blues, sendo notória a marca dos ritmos afro-brasileiros em suas canções. Segundo Luedji Luna, essa sua sonoridade, fortemente conectada com a África, vem da História, através do seu pai (pesquisador), e do seu encontro “mágico” com as diásporas negras. Explico: cada um de seus músicos possui uma ligação com a Bahia e com o continente africano. 


Luedji Luna lançou o seu primeiro álbum de estúdio (Um Corpo no Mundo), em 2017 e, em 2020, lançou o seu mais novo trabalho, o disco “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”, que contém um belíssimo e impressionante conteúdo visual, no YouTube. 



O primeiro disco de Luedji Luna traz muito da busca pela África Ancestral e, embora seja importante e digno de que eu grite aqui: “conheça!”, neste post, conforme o título da matéria, falaremos sobre o segundo e mais recente álbum da cantora.  

Grande parte do “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água” foi gravada no Quênia, em Nairóbi. Nesse sentido, a cantora comenta que esse trabalho contém muito da “África literal/moderna”, da “África que ficou lá”.

Foto: Helen Salomão

“Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água” foi a canção que norteou todo esse projeto. Uma curiosidade é que esta frase é um trecho de uma música do François Muleka, também autor da música de Luedji Luna.

O disco nasceu em um momento que ela estava refletindo bastante sobre seus afetos e relacionamentos. Logo, por ser uma canção muito bonita e que tem a ver com essa temática que ela escolheu para o seu novo trabalho, "Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água" acabou se tornando o título da obra.

Reprodução: Instagram

Acerca de “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água”, a cantora e compositora comenta que é um disco que trata do tema do amor, da afetividade, a partir desse lugar que é o lugar que ela se apropria e conhece, que é de mulher e preta. 

Em uma sociedade na qual a mulher negra sofre com a invisibilidade, em todos os níveis, Luedji Luna destaca a importância de suas composições, através das quais consegue construir um outro imaginário e uma outra narrativa, com mulheres negras vivendo toda a pluralidade e afetividade. Ela deixou o amor, em suas várias nuances, muito presente no disco. 

O mar é o lugar onde eu construí afetos.

Sobre a sua relação com o “mar” e com a “água”, Luedji Luna expôs que Salvador foi onde ela constituiu seus afetos, onde aprendeu a amar, isto é, que todas as suas construções de afetos (com amigos e família) aconteciam perto do mar, na praia, ou em torno d’água. Assim, quando fala sobre os significados desse álbum, ela salienta a questão de que estava grávida e de que a água está muito ligada às emoções, ao feminino e à maternidade ("o corpo se enche de água, um ventre se enche de água"). Além disso, há conexões com a simbologia de Oxum, Deusa do Amor, e de Iemanjá, que é a mãe de todos os Orixás. Desse modo, a água é um elemento que traz uma série de simbologias que estão conectadas ao que ela queria e quer cantar.

Foi um disco que foi gestado enquanto eu estava gestando.

 


Destaco que, inicialmente, o álbum traz muito a questão da solidão, da objetificação dos corpos, expondo temáticas como racismo, LGBTQIfobia e várias nuances sobre ser amada e desamada. No entanto, na medida em que o disco vai evoluindo, isso vai se resolvendo. 

Luedji Luna ressalta que, ainda hoje, a mulher negra não consegue exercer a sua maternidade com plenitude. Então, em contraponto, ela trouxe esse trabalho visual incrível, em que está dançando, fluindo, “flutuando” ao lado e dentro das águas, na praia, com o seu “barrigão”, vivendo e sentindo essa maternidade, no “suprassumo da plenitude”, com beleza. Ela disse que isso era o que ela queria mostrar: “Que a nossa maternidade é possível.” 

Luedji Luna é, sem dúvidas, uma das artistas mais impressionantes que conheci nos últimos anos. Ela consegue, através da sua voz e da sua arte, te despertar para questões necessárias e, ao mesmo tempo, ser acalanto. Escutar Luedji Luna é sempre um abraço na alma. 

Espero que vocês possam se dar o privilégio de conhecer essa grande artista brasileira e que tenham gostado de saber um pouco mais sobre ela aqui!

Para finalizar, friso um verso de "Lençóis", uma das faixas mais marcantes do disco:

E eu não me sinto só na imensidão do céu...





Referências: 

Breve Festival. Luedji Luna fala sobre novo álbum, ancestralidade e a afetividade da mulher negra | Breve, Fala! (https://www.youtube.com/watch?v=fuA6Jhce-eA

Canal Arte1. BOM MESMO É ESTAR DEBAIXO D'ÁGUA - LUEDJI LUNA | ARTE1 EM MOVIMENTO (https://www.youtube.com/watch?v=fUswibuaJ0g)

Canal Brasil. Lázaro Ramos e Luedji Luna | Espelho (https://www.youtube.com/watch?v=yKUT_cgb9XA)

Papo de Música. Luedji Luna: maternidade, africanidade e ancestralidade (https://www.youtube.com/watch?v=VE1428gNoGE