REVIEW: SOUR - Olivia Rodrigo

Olivia Rodrigo lançou seu tão aguardado álbum de estreia, após três singles incríveis, incluindo o enorme hit "drivers license", que continua sendo o maior lançamento do ano até aqui. A cantora, de apenas 18 anos, já conquistou em meses de carreira o que muitos levam anos para alcançar.

Enquanto ainda tinha apenas duas músicas lançadas - e mais uma anunciada - Olivia se apresentou no palco do BRIT Awards e foi anunciada como convidada musical no SNL, onde estreou seu terceiro single "good 4 u".

Seu primeiro single, "drivers license", já chegou fazendo história, se tornando a música mais reproduzida em um único dia no Spotify. A faixa também estreou na primeira posição na Billboard Hot 100. Difícil dizer qual foi a última vez que vimos uma ascensão tão rápida na música pop.

Mas isso se deve ao talento incontestável da cantora, que mostrou já com seus singles que é uma artista extremamente versátil e, melhor ainda, transita com maestria por todos os gêneros que se propõe a explorar. Agora, nos resta aguardar a repercussão do seu disco de estreia, que vamos analisar faixa a faixa a seguir.

Começamos com brutal que apesar do início clássico, é logo quebrada por uma sonoridade punk e vocais meio falados. O tom da faixa condiz com o nome do álbum e combina com a acidez da letra, que mais uma vez não decepciona. O final volta ao ritmo desacelerado e reconfortante do começo.

A segunda faixa "traitor" já começa com uma transição perfeita em relação à sua antecessora. O tom calmo e angelical fica um pouco mais intenso no refrão, mas continua melancólico. O tema aqui é comum ao que já ouvimos, a desilusão amorosa que nunca sai de moda ou deixa de trazer identificação. A jogada entre traição e traidor é o tema da faixa que - mais uma vez - é uma composição incrível. Ela foi composta apenas por Olivia e seu produtor Dan Nigro.

Em seguida vem "drivers license", que dispensa comentários. Não foi por acaso que essa música rendeu tantos frutos à Olivia, a composição vulnerável, a melodia dramática, os vocais irretocáveis e a emoção transmitida - sobretudo na bridge - criam a balada perfeita. Não é sempre que vemos esse tipo de canção liderar os charts, mas nesse caso não poderia ser diferente. Qualquer outra recepção seria injusta.

Depois vem "1 step forward, 3 steps back". A melodia já de início é familiar para os Swifites. Olivia, que é também fã assumida de Taylor Swift, pegou emprestada a melodia da faixa "New Year's Day". O mais curioso é que Swift ainda não detém os direitos do álbum "reputation", onde está essa melodia, e por isso Olivia utilizou uma forma diferente do tradicional sample, chamada de interpolação - onde o sample é recriado - garantindo que Scooter Braun não receba os direitos autorias pelo uso (caso queira entender melhor essa história, leia nossa matéria aqui). A música aborda a fragilidade de uma relação onde a cantora sente que está "pisando em ovos" e sempre tentando agradar seu parceiro. Mais uma vez Rodrigo demonstra sua capacidade de transmitir emoção com a voz.

A próxima faixa "deja vu", também é uma velha conhecida da função repeat nos meus serviços de streaming. O segundo single de Olivia, lançado em abril, mostrou um lado mais ousado e ácido em relação ao seu primeiro trabalho. A melodia mais experimental é cativante e combina com o tom da letra.

Depois temos mais uma - não tão velha - conhecida. "good 4 u", o mais recente single de Olivia. Passando a marcha de vez, a cantora assume o estilo pop punk e entrega um resultado que todo mundo que gosta do clássico "Misery Business" da banda Paramore aceita com felicidade. Mais uma vez mudando totalmente de estilo, Olivia prova que transita perfeitamente entre os diferentes estilos que explora. A faixa deixa o desejo de ouvir a cantora mais vezes nesse gênero.

Voltando aos tons suaves, chegamos em "enough for you". A cantora, ao som de um instrumental mais acústico, fala do seu esforço - quase obsessivo - para agradar seu parceiro. Olivia compôs essa faixa sozinha, o que faz sentido dada a vulnerabilidade da letra. O final é reconfortante, com Rodrigo reconhecendo que o futuro pode - e deve - ser melhor do que um relacionamento fracassado.

Em seguida "happier" entra com uma melodia retrô que instantaneamente me cativou. Em mais uma composição solo, Olivia assume seu egoísmo e fala da dificuldade de aceitar a felicidade de alguém que seguiu em frente mais rápido do que ela. O segundo refrão é o ponto alto da música. A música talvez seja o ponto alto do álbum. Difícil definir porque até aqui não encontrei um ponto baixo.

Com mais uma guinada de ritmo, chegamos em "jealousy jealousy", voltando a ouvir influências de pop punk. O tema se mantém, de uma forma diferente, Olivia continua assumindo seu lado egoísta, dessa vez de uma forma que soa ainda mais similar. Quem nunca sentiu uma pontada de inveja vendo o falso retrato da vida perfeita nas redes sociais, que atire a primeira pedra. 

Em "favorite crime" voltamos a um instrumental mais acústico. Olivia fala dos limites que foram violados por ela e seu parceiro no relacionamento - por motivos talvez diferentes. As harmonias no último refrão e a outro são um acalento para os ouvidos.

Infelizmente chegamos à última faixa "hope ur ok". Abandonando os sabores ácidos e azedos, Olivia adota aqui um tom exclusivamente doce. A faixa fala das dificuldades de diferentes histórias e de um desejo em comum: que todas elas tenham um final feliz. A bridge deixa claro que Lorde é uma das inspirações de Rodrigo, da melhor forma possível. A melancolia com um toque de positividade fecha muito bem o disco.

Como tudo que é bom dura pouco, vamos às conclusões. Assim como nos seus 3 primeiros singles, é difícil apontar defeitos no disco de estreia de Olivia Rodrigo. Podia dizer que queria que ele fosse mais longo - que foi meu pensamento inicial quando vi sua duração - mas agora que ouvi o disco, acho que não mudaria nem isso. 

A cantora, apesar da pouca idade, já demonstra maturidade na sonoridade e nas composições. O desenrolar da era de estreia de Olivia com certeza é uma das perspectivas mais animadoras no cenário musical esse ano. E sim, já estou ansiosa para a próxima, mas ainda vou deixar o "SOUR" no repeat por um bom tempo.