Esta terça-feira, dia 13/07, foi celebrado o dia mundial do Rock! A fim de prestigiar essa data, a banda de pop punk Meu Funeral uniu forças com a renomada funkeira Tati Quebra Barraco para lançar a faixa "Dançar". A inusitada parceria entre artistas de ritmos não frequentemente associados rendeu um resultado surpreendentemente coeso e uma animada música de rock, perfeita para comemorar essa data.
Tivemos a oportunidade de conversar com os integrantes da Meu Funeral e com a Tati sobre o lançamento, como vocês podem conferir a seguir:
Entrevista
1) Como surgiu a ideia de convidar a Tati Quebra Barraco, uma cantora de funk, para gravar uma música de pop punk com vocês?
Meu Funeral (Lucas): Essa música fala sobre dançar e se divertir e a gente numa conversa falou em chamar alguém que fosse mais desse universo de músicas dançantes. O primeiro nome que surgiu foi o da Tati, e ela topou, olha só? (risos). E eu escuto muito funk, então é um som que eu curto muito. Apesar de soar estranho foi muito natural.
2) Como foi para vocês essa mistura do funk com o pop punk?
Tati Quebra Barraco: Ah, foi uma realidade que você não vê toda hora e nem em cada esquina. Mas o desafio foi aprovado, a gente topou e foi uma coisa que como o Lucas falou, ficou muito real. Incorporar uma rockeira, como uma pessoa que vem do funk e escuta um batidão eu achei que ia ser um desafio. Mas a rockeira veio sim e não ficou nada forçado - e foi ótimo.
Meu Funeral (Dan): Foi naturalíssimo. O rock, que encantou o mundo há meio século atrás, foi muito baseado em atitude e o rock hoje em dia está muito burocrático. Essa coisa da atitude, de chegar metendo a bronca, está em outros gêneros. A gente não tem problema nenhum em assumir isso. A gente tem como uma missão resgatar um pouco essa coisa viva, orgânica, do rock. Então na verdade o exercício foi pedir emprestado esse tipo de atitude. É a Tati Quebra Barraco, porra! O que ela fizesse - se ela fizer um ovo vai ficar foda, porque foi ela que fez. Isso independe de rótulo, de gênero, ou de qualquer coisa. Soa natural porque é arte - é feito com, sei lá, com o estômago ou com o coração mesmo.
Meu Funeral (Tentilhão): Foi uma coisa nova pra gente e pra ela também. Ela nunca gravou rock mas a gente também nunca gravou com ninguém do funk. Acho que em nenhuma das nossas bandas da vida a gente fez isso, então foi uma experiência muito nova e isso é muito legal porque a gente começou do zero então a gente que criou isso. A gente não teve nenhum tipo de referência, a gente que fez ali, fez naturalmente.
3) Vocês lançaram esse ano o primeiro álbum de vocês, o “Modo Fufu”. As letras têm um quê de irreverência, no bom sentido, e são bem críticas. Vocês veem uma relação, nesse ou em outro sentido, entre o punk e o funk?
Meu Funeral (Lucas): Acho que é o que o Dan falou. Tem essa coisa da atitude, da contestação, a crítica. E ainda assim, mesmo criticando dançar e se divertir, é importante, também é revolucionário. Acho que tem muita coisa em comum, apesar de serem gêneros diferentes, que foram se distanciando ao longo da história, ainda tem um ponto em comum muito forte, que foi o que a gente tentou resgatar nessa música.
Meu Funeral (Dan): São gêneros que vêm do povo, que tem como ética o "faça você mesmo", que muitas pessoas e metem a mão e fazem. Como o Lucas muito bem falou, cada um teve o seu caminho, mas os dois vêm do mesmo lugar, não geograficamente, mas de estar à margem de um "establishment", a arte estabelecida, a cultura, e fazem aquilo que é o que eles sabem fazer. Os dois têm essa origem. Eu não tô querendo pagar de teórico, porque o Lucas entende muito mais disso do que eu, só pra deixar claro (risos).
Meu Funeral (Tentilhão): Tem uma coisa que tem que ser levada em consideração: punk e funk é quase a mesma palavra (risos).
4) Tati, você e o Lucas compuseram essa música juntos. Da onde veio o nome "Dançar", como foi esse processo?
Tati Quebra Barraco: Isso aí foi tudo com eles. Eu cheguei e executei a voz.
Meu Funeral (Lucas): Na verdade a Tati escreveu a parte dela porque ela pegou o microfone e brilhou, no improviso! A música tinha uma estruturazinha ali e a gente falou: Tati, brilha! E virou um negócio surreal.
Meu Funeral (Dan): Nas gravações tem coisas muito boas que você fez Tati! Daria pra fazer mais umas três ou quatro versões com outras palavras e coisas que ela mandou, geniais.
Tati Quebra Barraco: Foi show mesmo! Foi muito divertido, a gente ficou à vontade, não teve aquela pressão que a gente sabe, quando a gente vai se apresentar. Você pode trabalhar 5, 10, 20 anos, sempre vai dar aquele friozinho na barriga, da gente encarar aquele público. Então ali foi um desafio que fiz tranquila, fiz calma, o friozinho chegou mas passou logo. No primeiro teste foi maravilhoso e quando foi a vera foi a vera, e foi top demais!
5) Vocês lançam junto com a música, o clipe também, certo? Como é o envolvimento de vocês na produção de clipes?
Meu Funeral (Dan): É a continuidade daquilo que eu falei lá. A nossa forma de trabalho, é o faça você mesmo, a gente gosta de meter a mão porque sai do jeito que a gente quer, é mais prazeroso, é mais barato, não tem "fru-fru". Se a gente tivesse que esperar uma estrutura hollywoodiana não ia sair nada. A gente tem total consciência que nós somos uma banda pequena, pro mainstream. Isso vai acontecer, a gente vai ficar gigante mas a gente vai continuar fazendo as nossas paradas. Então tudo que tá lá foi uma planilha gigantesca que nós consolidamos, cada item cada um ficou responsável, chorando preço, correndo atrás. A gente faz de trás pra frente, a finalização do vídeo que todo mundo vê, até ir comprar água. E é assim que a gente sabe trabalhar. Então é muito prazeroso, dá trabalho, óbvio, mas é uma gestação assim, mal comparando com uma coisa maior e muito mais significativa (risos). Retiro o que eu disse, tenho uma bebezinha aqui em casa e é uma coisa horrível comparar um clipe com um bebê, mas é uma "tamagochizinho", pronto! Você alimenta e se não ficar em cima não sai.
Meu Funeral (Lucas): No final das contas, por mais trabalhoso que seja, a gente se diverte muito mais fazendo desse jeito do que você chegar lá e tocar e depois não fazer mais nada. A gente gosta dessa correria mesmo, até pra ter nossa identidade ali impressa.
6) Vocês sentiram que a pandemia influenciou o processo? Como foi desenvolver tanto um single quanto um clipe nesse momento?
Meu Funeral (Dan): A gente é uma banda de 2018, então a gente tem mais tempo na pandemia do que fora dela. Então muito mais tempo, mais lançamento, volume de coisa e qualidade. Nem se compara o nível de qualidade com o de três anos atrás. Então na verdade a resposta não existe, a gente não sabe como seria o mundo sem a pandemia. Um mundo mais feliz claro, mas a gente só soube fazer assim, a gente se adaptou prontamente.
Meu Funeral (Tentilhão): Hoje em dia, na verdade, acho que todos os artistas têm que ter um espírito bastante empreendedor, não é só mais aprender a tocar guitarra, ter uma postura no palco e gravar música. Você tem que ter toda uma estrutura de divulgação, de branding de carreira e tudo mais e isso é uma coisa que virtualmente é possível de se fazer. Você colocar toda essa energia no virtual e conseguir fazer no virtual só, te deixa um pouco mais cascudo. Acho que a gente conseguiu aproveitar as coisas que a gente podia, então nesse lugar da adaptação super funcionou. Mas o principal, que é fazer show, ainda não dá, e é o que a gente sente falta. A gente toma os cuidados quando vai ensaiar, mas em termos de produção e de gravar e de rede social, a gente conseguiu seguir, independente da pandemia.
Tati Quebra Barraco: Mas precisamos seguir né? É o momento que a gente tem que estar botando as nossas músicas, as nossas ideias, se não daqui a pouco a gente não tá trabalhando, e aí a gente vai cair no esquecimento? Não tem como. Então a gente tem que fazer o certo, se proteger, usar nossa máscara, mas a gente tem que dar continuidade no nosso trabalho, se não daqui a pouco a gente vai cair no esquecimento, a gente sabe que é assim que funciona, infelizmente.
Meu Funeral (Lucas): É o ninguém solta a mão de ninguém, na prática mesmo, não só numa imagem compartilhada.
7) Nos EUA estamos vendo o renascimento do pop punk, como vocês veem isso no Brasil? Vocês se veem como parte disso?
Meu Funeral (Dan): Legal você apontar isso! Eu estou louco pra gente ser acusado de ser oportunista, de estar usando a moda, mas na verdade não cara, é o que a gente é. O que une nós 4 aqui na Meu Funeral é o pop punk, cada um tem um gosto, uma história pregressa, mas o que une nós 4 é o pop punk, então a gente não saberia estar fazendo nada diferente disso. Tudo é cíclico na arte, então é muito maneiro que esteja acontecendo esse resgate. Sobre uma ótica de mercado, é muito maneiro nós estarmos na ativa com esse produto nesse momento, que no Brasil é muito incipiente ainda, lá fora está muito mais forte. Uma vez que a gente ficou sabendo disso, maneiro, vamos tentar fincar o nosso nome como um dos artistas que estão trazendo isso pra cá de volta. Mas é uma mentirada, porque é isso que a gente faz! Podia estar em qualquer era da humanidade.
Meu Funeral (Pepe): A gente já toca punk desde o início e acaba soando cada vez mais pop porque a gente ouve muito pop, e ouve muitos outros estilos.
Meu Funeral (Tentilhão): É claro que a indústria americana é imensa e influencia no mundo inteiro. Mas talvez o modelo de pop punk nos EUA seja completamente diferente do pop punk no Brasil, porque aqui o pop é funk, é pagode... Então talvez o pop punk no Brasil seja exatamente isso que a gente tá fazendo com a Tati.
9) A gente pode esperar mais lançamentos com cantores de fora da cena do pop punk, além de “dançar”, pro futuro? Quais são os projetos de vocês e também da Tati?
Tati Quebra Barraco: A gente quer muito que tudo volte ao normal pra gente mostrar esse clipe que ficou incrível ao vivo. A gente tá sempre gravando com alguém, mas a gente tem que ter uma identificação com a pessoa, admirar o trabalho dela, que aí fica melhor.
Meu Funeral (Lucas): A gente tá finalizando gravação do próximo disco, "Dançar" é a primeira música que a gente tá lançando dele.
Periódico: Já tem nome?
Meu Funeral (Lucas): E aí vai ser aquele nome mesmo?
Meu Funeral (Dan): Ah, eu acho que sim cara! Manda aí em primeira mão!
Meu Funeral (Lucas): "Tropicore Radical" vai ser o nome do disco. Não pensamos em outros feats ainda, mas é nessa pegada contestadora e ao mesmo tempo bem humorada. Acho que o humor é uma forma muito boa de fazer as pessoas refletirem. Como a gente escuta outras coisas a gente acaba incorporando isso nas nossas músicas, apesar do pop punk ser o que une a gente.
Meu Funeral (Tentilhão): A gente ainda não sabe quando vai tocar ao vivo. Lançar o clipe vai ser maravilhoso, mas o que vai ser genial mesmo é tocar ao vivo com a Tati!
Essa foi a nossa conversa com a banda Meu Funeral e a lendária Tati Quebra Barraco sobre sua nova música, "Dançar", que já está disponível nas plataformas digitais!
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